RAINHA DO FORRÓ, MISSIONÁRIA EVANGÉLICA OU DIVA GAY? SE VOCÊ ACHA QUE ESSES TÍTULOS SÃO EXCLUDENTES, PREPARE-SE PARA SER SURPREENDIDO PELA VERSÃO 2010 DE ELIANE. SIM ELA MESMA, A INTÉRPRETE DE CLÁSSICOS DOS 80´S COMO AMOR OU PAIXÃO E MEU NEGO RESSURGE EM FORMATO RELOADED
Os cabelos lisos e negros vão quase até a cintura. O minivestido dourado, de alcinhas, nem alcança os joelhos. O salto da sandália, também cor de ouro, ignora os perigos ditados pela lei da gravidade e pinoteia incessantemente. É Eliane, outrora conhecida pelo epíteto de ``Rainha do Forró``, que incendeia plateia e palco da boate Donna Santa, em show no último sábado. À vontade com o público formado majoritariamente por casais masculinos, a moça demonstra intimidade com a diversidade sexual. ``Fiz um show numa boate como essa em Natal e recebi uma energia maravilhosa. Tenho certeza que será assim aqui também``, anuncia, logo na entrada.
Por ``boate como essa`` é de conhecimento geral que é uma casa voltada para o público gay. Talvez por essa especificidade do segmento, Eliane deixa de lado por instantes o gênero que lhe deu fama e faz citações musicais impensáveis. Emenda um trecho de Singles ladies, da diva Beyoncé, em uma canção de forró & com direito à coreografia e tudo. Vai além e canta outro hit recente da comunidade GLBT (XYZ), Please dont stop the music, de Rihana, e não poupa o megahair em movimentos de ``bate-cabelo``. Arrisca, ainda, uma introdução de They dont care about us, e emenda: ``Ai que saudades de Michael Jackson, né gente?``. Simples assim, íntima e hypada.
Até que, em determinado momento da noite, a cantora abandona os (muitos) requebros sensuais - ``Aprendi uns passinhos, vocês notaram?``, justifica -, puxa o tripé do microfone para o centro do palco e anuncia, à guisa de precaução: ``Antes que eu comece a próxima canção, eu queria dizer uma coisa para vocês. E é muito importante que vocês saibam disso``, fala, compenetrada. E segue: ``Deus ama vocês independente do que vocês sejam, do que vocês façam. Eu tenho certeza disso. Ele ama muito todos que estão aqui e eu também``.
Audiência conquistada (foram muitos os gritos e aplausos ante a declaração do amor Divino), Eliane, que é evangélica, entoa os versos de Entra na minha casa, hit gospel da temporada, de autoria de Regis Danese. Aí, dá-se o milagre. Quase que literalmente. Pela plateia, não são poucos os que, emocionados, fecham os olhos, elevam os braços ao céu e se sentem tocados ao cantar a plenos pulmões: ``Entra na minha casa, entra na minha vida / Mexe com minha estrutura, sara todas as feridas / Me ensina a ter Santidade. Quero amar somente a Ti / O senhor é meu bem maior, faz um milagre em mim``.
A visão, quase que inacreditável, acontece em plena madrugada de domingo, intervalo insuspeitado em meio à caça por olhares furtivos, promessas de amores fugazes, trocas de saliva, possibilidades de um date day after. Sim, Eliane consegue fazer tudo isso numa única noite. Arrasta casais de rapazes para saracotear com clássicos de forró dos anos 80, mistura com hinos das divas gay e ainda coloca o público para louvar o Senhor garantindo que Deus não os distingue por conta de orientação sexual.
Quer coisa mais inclusiva que isso? Sinceramente, Cena G desconhece. Por isso mesmo, virou fã de carteirinha da moça. E que muitos outros sigam o seu exemplo!
MILITÂNCIA
Para não errar mais
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) acaba de lançar a primeira edição de seu Manual de Comunicação LGBT. A publicação tem o objetivo de ``dirimir as dúvidas da mídia e da sociedade em geral sobre identidades de gênero e diversidade sexual, numa linguagem simples, direta e acessível`` e foi realizada em parceria com jornalistas, pesquisadores e outras instituições.
Na prática, a idéia é fornecer ferramentas para que os meios de comunicação de uma maneira geral se pautem pelo respeito à diversidade sexual e não cometam mais erros tão corriqueiros como usar as expressões ``homossexualismo`` (o correto é ``homossexualidade``), opção sexual (o correto é ``orientação sexual``) ou chamar travestis pelo artigo masculino (o correto é ``a`` travesti) e por aí vai.
O material é super bacana, útil e de fácil compreensão. Quem estiver interessado em obter um exemplar é só acessar a página da ABGLT e fazer o download gratuito do seu. O endereço é http://www.abglt. org.br/port/publicacoes.php
fonte: jornal o povo... opovo.uol.com.br
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